domingo, 14 de julho de 2013

Pelo saudoso Oswaldo Justo

Tenho uma fazenda como todos já sabem pelas minhas histórias, mas tenho um vizinho que cercou de 2 alqueires de morro, com 8 fiadas de arame farpado. Ele viajou para o Nordeste e lá comprou 500 cabritos. Os outros vizinhos não gostavam nada da idéia, pois que cerca é capaz de  segurar 5400 cabritos. Plantadores de milho, feijão, verduras, bananas, maracujá, se arrepiavam só de pensar nos cabritos diabólicos atacando a plantação. Quando os cabritos chegaram, não demorou muito para começarem as reclamações.
O Gaúcho sempre pagava pelos prejuízos até que um dia não agüentou. Os cabritos quando não alcançavam mais as folhas, comiam as cascas da árvores e os pés acabavam morrendo.. As conversas de todos os dias eram sempre sobre os cabritos miseráveis e esfomeados do Gaúcho. Não adiantava plantar mais nada! Os cabritos comiam tudo!
Um dia o Gaúcho notou que as reclamações haviam cessado. Os vizinhos não se queixavam mais dos cabritos. Eufórico pretendia comprar mais 500, ficou surpreso ao ver que ninguém se manifestou com a novidade. Pensou desconfiado: “Ué, mais 500 cabritos... ninguém protestou...
Depois que chegou a remessa dos novos cabritos, o Gaúcho mandou contar o rebanho que tinha no pasto.
Pouco mais de 100! Disse-lhe seu administrador
Como? Só isso? Só nesta semana coloquei mais de 500 cabritos no pasto! Onde está o restante?
Respondeu seu administrador:
Na barriga dos vizinhos, que, agora, não reclamam mais...


*Retalhos da Caminhada, Santos, 1998, p. 234-235.

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