Pelo saudoso Oswaldo Justo
Tenho uma fazenda como todos já sabem pelas minhas
histórias, mas tenho um vizinho que cercou de 2 alqueires de morro, com 8
fiadas de arame farpado. Ele viajou para o Nordeste e lá comprou 500 cabritos.
Os outros vizinhos não gostavam nada da idéia, pois que cerca é capaz de segurar 5400 cabritos. Plantadores de milho,
feijão, verduras, bananas, maracujá, se arrepiavam só de pensar nos cabritos
diabólicos atacando a plantação. Quando os cabritos chegaram, não demorou muito
para começarem as reclamações.
O Gaúcho sempre pagava pelos prejuízos até que um dia não
agüentou. Os cabritos quando não alcançavam mais as folhas, comiam as cascas da
árvores e os pés acabavam morrendo.. As conversas de todos os dias eram sempre
sobre os cabritos miseráveis e esfomeados do Gaúcho. Não adiantava plantar mais
nada! Os cabritos comiam tudo!
Um dia o Gaúcho notou que as reclamações haviam cessado. Os
vizinhos não se queixavam mais dos cabritos. Eufórico pretendia comprar mais
500, ficou surpreso ao ver que ninguém se manifestou com a novidade. Pensou
desconfiado: “Ué, mais 500 cabritos... ninguém protestou...
Depois que chegou a remessa dos novos cabritos, o Gaúcho
mandou contar o rebanho que tinha no pasto.
Pouco mais de 100! Disse-lhe seu administrador
Como? Só isso? Só nesta semana coloquei mais de 500
cabritos no pasto! Onde está o restante?
Respondeu seu administrador:
Na barriga dos vizinhos, que, agora, não reclamam mais...
*Retalhos da Caminhada, Santos, 1998, p. 234-235.
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